Trump suspende sanções e se encontra com novo líder sírio, Ahmed al-Sharaa
Ex-militante ligado à Al-Qaeda, al-Sharaa tenta agora ganhar legitimidade internacional e equilibrar forças internas após queda de Assad

Em uma reviravolta histórica nas relações internacionais, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (14), na Arábia Saudita, o fim das sanções econômicas à Síria. O anúncio veio momentos antes do primeiro encontro oficial com o presidente interino sírio, Ahmed al-Sharaa — o primeiro entre líderes dos dois países desde o ano 2000. A medida foi recebida com festa nas ruas de Damasco.
Encontro inédito e fim das sanções
Trump afirmou que a decisão de suspender as sanções foi tomada após pedidos do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, e do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. “É a hora deles brilharem”, disse Trump durante um fórum de investimentos em Riad. O ex-embaixador dos EUA na Síria, Robert Ford, elogiou a medida, afirmando que o país "precisa desesperadamente de financiamento para se reconstruir".
As sanções, herdadas do período de Bashar al-Assad, bloqueavam o acesso da Síria a qualquer financiamento estrangeiro, inclusive ajuda humanitária. Com o novo cenário, esperam-se vultosos investimentos de países árabes e empresas internacionais.
Quem é Ahmed al-Sharaa
Figura controversa, Ahmed al-Sharaa já foi conhecido como Abu Mohammad al-Jolani. Ex-membro da Al-Qaeda no Iraque, passou por prisões americanas e comandou grupos jihadistas como a Frente Nusra e o Hayat Tahrir al-Sham (HTS). Após o colapso do regime Assad em dezembro, tornou-se presidente interino da Síria.
Al-Sharaa afirma buscar agora estabilidade e reconciliação. Ele tem evitado retórica inflamada, defendeu a educação para mulheres e prometeu garantir os direitos de todas as religiões — uma mudança que levanta dúvidas sobre sua real intenção: transição ideológica ou cálculo estratégico.
Tentativa de equilíbrio interno
Desde que assumiu o poder, al-Sharaa enfrenta a difícil missão de conciliar as expectativas da comunidade internacional com as exigências da ala radical sunita. Em diversas entrevistas, incluindo uma recente à BBC, ele prometeu anistia a ex-militares, segurança para minorias e fim dos atos de vingança.
Apesar disso, episódios de violência persistem. Em março, confrontos entre forças do novo governo e apoiadores do antigo regime resultaram em centenas de mortes de civis alauítas, minoria à qual pertencia Assad. Também houve conflitos envolvendo drusos e outras facções armadas.
Um novo xadrez no Oriente Médio
Para a Arábia Saudita e a Turquia, o novo governo representa uma oportunidade de conter a influência do Irã no mundo árabe. O jornalista Khashayar Joneidi, da BBC News, avalia que o encontro entre Trump e al-Sharaa ajuda a consolidar a visão saudita para o Oriente Médio e amplia a legitimidade internacional do líder sírio — cuja imagem ainda carrega o peso do passado jihadista.
O fim das sanções também deve favorecer empresas americanas, especialmente no setor energético, além de viabilizar investimentos bilionários por parte de países árabes na reconstrução da Síria.
COMENTÁRIOS